Sem as principais ações de tecnologia, o mercado de ações americano andou ‘de lado’

 

Por Marília Almeida, Valor Investe — São Paulo
06/10/2023 06h20

Considerado o principal índice de ações dos Estados Unidos, o S&P 500 tem uma história de quase 100 anos e ninguém duvida de sua importância. Mas para entender o que realmente vem acontecendo no mercado de ações americano, é preciso dar uma ‘ajustada’ no indicador.

No acumulado do ano, até o pregão de ontem, pode parecer que o mercado acionário americano está ‘bombando‘, mesmo que a taxa de juros do país esteja em suas máximas em 22 anos: no período o índice registra uma alta de cerca de 11%. Contudo, caso sejam retiradas do índice suas sete principais ações de tecnologia, conhecidas como “sete maravilhas”, o desempenho muda, e muito: o índice registra leve alta de 1,20%. É o S&P Equal-Weight, usado para corrigir as distorções que os papéis provocam no índice.

Olhado dessa forma, o desempenho do S&P 500 se torna similar ao do Dow Jones, que fica praticamente estável no ano. Já o Russell 2000, que reúne as empresas de menor capitalização, registra queda de 1% no mesmo período, aponta Andrew Reider, diretor da gestora WHG.

Juntos, os papéis da Tesla (TSLA), Amazon (AMZN), Google (GOOG), Meta (META), Nvidia (NVDA), Microsoft (MSFT) e Apple (APPL) registram alta de 57,40% no ano. Todas essas empresas têm valor de mercado acima de US$ 1 trilhão, o que fazem com que tenham um grande peso sobre o índice.

Como resultado, o valor de mercado do S&P, medido pelo preço/lucro, cai de 18,5 vezes para 15 vezes, em linha com a sua média histórica, aponta Leonardo Otero, sócio fundador e gestor da Arbor Capital. “Ou seja, não há exageros: o valor de mercado do índice, atualmente, é justo. Em janelas de cinco anos ou mais, acreditamos que investir no índice irá gerar retornos anuais de cerca de 7%”.

Otero pondera que desde o final de 2021, tanto as ‘sete maravilhas’ quanto o S&P 500 registram queda de 6%. “As ações de tecnologia tiveram um desempenho muito ruim no ano passado e se recuperaram neste ano”. Reider, da WHG, aponta que a razão foram problemas alheios às empresas, como a alta dos juros. “Nesse ano, os resultados das empresas vieram fortes e os preços foram corrigidos“.

Perspectivas

 

É verdade que muitas empresas americanas foram prejudicadas pelo cenário de juros altos, especialmente as que estavam alavancadas (leia-se, endividadas). Mas o índice reúne as maiores e melhores empresas do país, ressalta.

“É um momento de muita ansiedade, mas recomendamos ter foco nas empresas, e não nos movimentos dos papéis. Quem investir com o risco de precisar do dinheiro no curto prazo pode ter uma surpresa desagradável. Mas se o foco for o investimento de longo prazo, acreditamos que seja improvável perder dinheiro investindo no índice e nessas grandes empresas“.

Ações de tecnologia ainda têm espaço para crescer

 

Apesar da alta expressiva, parte impulsionada pela evolução de aplicações da inteligência artificial, e parte pela recuperação dos negócios, o gestor da Arbor acredita que as principais ações de tecnologia do índice seguirão com espaço para se valorizar

O fundo global da gestora tem cinco dos sete papéis no portfólio: Amazon, Google, Microsoft, Meta e Tesla. “Elas são as melhores empresas mundo, as mais dominantes e disruptivas. Acreditamos que devem crescer mais do que outras empresas do índice“.

O destaque, para a Arbor, é a Microsoft, que está bem posicionada para capturar a tendência da inteligência artificial, ao mesmo tempo em que oferece produtos e serviços consolidados, como a plataforma na nuvem Azure, o Windows, Pacote Office e LinkedIn.

No campo negativo, Otero aponta a ação da Apple está ‘cara‘. “Vemos muito risco para o negócio da empresa, cujo crescimento e produção é muito dependente da China“.